Ouvidos por A TARDE, o mestre em literatura e professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Gildeci Leite, e o babalorixá e antropólogo, Júlio Barga, disseram que não têm conhecimento de um caso onde a ialorixá abandonou o posto. “Não existe precedente”, afirmou Leite, que estuda a representação do candomblé na literatura brasileira.
Já Braga, autor de clássicos como Na Gamela do Feitiço e Fuxico de Candomblé, conta que, apesar de conflitos existirem na religião, um fato que provoque uma decisão dessa “é inédito”.
“Não tenho notícia de candomblé que passou por uma situação como essa”, afirmou o pesquisador, lembrando da importância histórica de Mãe Stella de Oxóssi. “Ela é uma espécie de síntese dessas grandes mulheres que comandaram o Axé Opô Afonjá”, define.
Na mesma linha, Gildeci Leite, que também é neto de santo do terreiro, diz duvidar que a ialorixá abandonaria o comando. “Na minha opinião, Mãe Stella não deixaria o Opô Afonjá por livre e espontânea vontade. Ela tem muita responsabilidade com a tradição, ela é um marco no candomblé e acredito que não deixaria as responsabilidades com Xangô”, afirma o professor da Uneb.
“Estando no uso perfeito de sua consciência, ela não diria isso”, defende Leite, frisando o simbolismo de Stella de Oxóssi, por ser ela uma intelectual negra e ialorixá. “Ela é o produto de todas as mulheres que vieram antes dela, que já tinham essa relação com a intelectualidade, como Mãe Aninha, por exemplo, que comandou o I Congresso Afro-Brasileiro, em 1937”, disse.
Sucessão
Presidente da Sociedade Cruz Santa do Opô Afonjá, entidade civil do terreiro, o obá odofin (ministro de Xangô), Ribamar Daniel, é o responsável por operacionalizar o processo de sucessão da mãe de santo, em caso de falecimento.
Nesta situação, explica o líder religioso, o terreiro fica fechado em luto de um ano. No dia em que completa o período, um sacerdote chamado de oluô, que tem o poder da adivinhação, faz o jogo da sucessão.
Essa pessoa, porém, não foi escolhida ainda. “Mãe Stella não deixou isso registrado”, afirma. Além disso, quem cumpria a função para as grandes casas de candomblé da Bahia era o professor Agenor Miranda, filho de santo de Mãe Aninha, fundadora do Afonjá. Ele, porém, morreu em 2004 – o que deixou o posto vago.
Ribamar explica que, diferente de casas como o Gantois, que tem uma sucessão de tradição hereditária consanguínea, o Afonjá funciona de forma diferente: qualquer membro do terreiro apto pode ser escolhido por Xangô, patrono da casa.
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