Historiador explica as origens do Carnaval e sua transformação ao longo dos anos

 

Historiador explica as origens do Carnaval e sua transformação ao longo dos anos
Foto: Betto Jr. / Secom PMS

O Carnaval, uma das festas mais populares do Brasil, tem uma história que remonta às civilizações antigas e passou por transformações ao longo do tempo até se consolidar como a expressão cultural vibrante que conhecemos hoje. Para entender melhor essa trajetória, o historiador Vicente Gualberto explicou as origens e influências dessa festividade.

“O Carnaval, na verdade, não é uma festa exclusivamente nossa. Ele está presente em diversas culturas. Podemos encontrar festivais semelhantes no Egito e entre os hebreus, no chamado Festival da Sorte. Mas a origem mais próxima do nosso Carnaval é romana”, destacou.

Na Roma Antiga, os festivais da Saturnália eram celebrações em homenagem ao deus Saturno, caracterizadas por desfiles, fantasias e inversão temporária de papéis sociais.

“Os romanos gostavam de festa e se fantasiavam nessa celebração. Era um momento de escape da rotina, algo que ainda se reflete no Carnaval moderno”, acrescentou.

Com a chegada da Idade Média, o Carnaval se firmou como uma manifestação essencialmente pagã, associada à busca por uma catarse das dificuldades diárias. No entanto, a Igreja Católica tentou reprimir a festa, pois via nela um obstáculo para a disciplina religiosa.

“A Idade Média foi um período de forte influência da Igreja, e o Carnaval era visto como uma expressão de escapismo, uma forma de aliviar as frustrações e privações”, explicou o historiador.

Percebendo que a proibição não era eficaz, a Igreja optou por cristianizar a festa, estabelecendo seu período antes da Quaresma, com a Quarta-Feira de Cinzas marcando o início do período de penitência. Assim, o Carnaval foi regulamentado dentro do calendário católico.

A chegada ao Brasil e as influências culturais

O Carnaval chegou ao Brasil por influência portuguesa, inicialmente como uma festa mais contida. “O que fizemos foi agregar elementos culturais diversos e criar algo autêntico. O tempero veio dos indígenas, com os caboclinhos, muito presentes em Pernambuco, e do negro, que fortaleceu a identidade do Carnaval no Rio de Janeiro e na Bahia”, explicou Vicente Gualberto.

Durante o período imperial, a festa era mais restrita, e a participação dos negros era limitada. No entanto, com a abolição da escravidão e a chegada da República, o Carnaval se popularizou e ganhou novas expressões culturais.

“Trocamos as marchinhas pelo samba, que veio do Recôncavo Baiano e foi levado ao Rio de Janeiro. Isso deu origem ao samba como ritmo predominante do Carnaval carioca”, ressaltou o historiador.

Na Bahia, o Carnaval passou por diferentes fases. “Já tivemos escolas de samba, blocos de rua e marchinhas. Nos anos 1950, Dodô e Osmar introduziram o frevo na festa baiana. Com isso, Moraes Moreira se consagrou como um grande cantor de frevo”, detalhou Gualberto.

O nascimento do Axé Music

Há 40 anos, surgiu um novo fenômeno musical que revolucionou o Carnaval baiano: o Axé Music.

“Foi criado por um grupo de artistas insatisfeitos com o Carnaval tradicional. Eles agregaram novos elementos e percussões afro-brasileiras, o que resultou em uma batida contagiante que conquistou multidões”, contou o historiador.

Com essa transformação, os foliões trocaram a mortalha e a mamãe sacode pelo abadá, consolidando o Carnaval baiano como uma festa única no mundo.

“O grande diferencial da nossa festa é que, durante quatro dias – ou melhor, quase dez na Bahia –, cada um pode ser o que quiser, sem julgamentos. Essa liberdade é o que torna o Carnaval tão especial e atrativo para os turistas”, concluiu Vicente Gualberto.

*Com informações do repórter Robson Nascimento

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